quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Saudades do Henfil...

Hoje, estava de papo com amigos via email e um deles lembrou do Henfil e isso detonou muitas lembranças.
Conheci o trabalho de Henfil quando ainda era um menino. Devia ter uns 13 anos quando li pela primeira vez uma história da Graúna e fiquei apaixonado por aquele humor sarcástico, por aquele traço minimalista e preciso. Henfil se tornou um ídolo e passei a procurar mais trabalhos dele.
Encontrei o Fradim... o desenho que ilustra o post foi desenhado por mim, agora, de memória e obviamente é uma representação muito fraca da capacidade deste que foi um dos maiores pensadores que o Brasil já teve.
Depois conheci o Henfil escritor, na verdade só li um único livro dele, creio que estou reservando os outros como se reserva no prato o melhor da comida, para o final da refeição.
O livro foi "Henfil na China", memórias de uma viagem que ele fez ao outro lado do mundo e foi como se estivesse do lado dele.
Então acompanhei virtualmente Henfil aos EUA, através de cartas que ele escrevia e publicava em diversos lugares, eu acompanhava as mesmas em uma seção chamada "Cartas da Mãe", que havia em uma publicação do Fradim.
E me arrisquei a escrever uma carta a ele e qual não foi minha alegria ao ver não só minha carta publicada na seção como receber uma preciosa carta escrita pelo próprio, com direito a desenho no canto e tudo mais. Infelizmente uma atitude impensada de uma ex-mulher fez esta carta se perder para sempre, ou provavelmente seria ela a ilustrar este post.
Foi-se a carta, mas a sensação de receber o contato daquele ídolo nunca vão conseguir me tirar, passei a desenhar o Fradim e a Graúna em tudo, era como uma marca.
Mas não foi só isso, aos 19 anos mudei para o Rio de Janeiro e em duas oportunidades consegui apertar a mão deste ídolo e uma delas foi mágica.
A primeira foi num lançamento de algum outro livro dele, confesso que não lembro qual foi o livro, mas recebi um convite do próprio Henfil para ir na tarde de autógrafos e estive lá, só deu para apertar a mão e não tinha sequer uma câmera pra registrar o momento, naquela bagunça ele certamente nem ouviu que eu era o tal sujeito que escreveu pra ele enquanto esteve nos EUA e mesmo que tivesse ouvido, seria certamente um entre muitos.
A segunda vez... que na verdade foi a primeira (troquei a ordem cronológica) aconteceu por mero acaso, na sede da Codecri, numa ladeira ali em Copacabana. Nesta época eu era leitor assiduo do Pasquim e apareci de penetra em uma reunião onde estavam vários ídolos, entre eles o Henfil.
La na Codedri o Henfil conversou alguns minutos comigo e certamente não lembrou qual carta minha tinha respondido, mas foi muito gentil e me deu um presente fantástico.
Falei pra ele que tinha a coleção de todas as suas revistas mas faltavam uns números e então aconteceu a mágica, antes de ir embora um funcionário da empresa me levou a uma espécie de porão onde estavam acumuladas centenas de publicações da Codedri.
Me disseram pra levar o que eu pudesse carregar e assim fiz...
Sai de lá com vários tesouros, inclusive alguns números do Fradim que eu não tinha porque foram publicados antes mesmo de eu descobrir o Henfil.
E sim... perderam-se todos na tragédia com a ex... nem vamos falar disso.
Depois disso vi o Henfil começar a aparecer no Fantástico, escrever na Veja e cada vez mais considerava-o um gênio e um exemplo a seguir.
Até que morreu... morreu cedo demais, como alias morrem aqueles que o mundo precisaria para ser melhor.
Morreu o Henfil e morreu também o irmão do Henfil, Betinho, imortalizado pela música do Chico Buarque e pelo seu trabalho pela sociedade brasileira. Muita gente não sabe, mas foi exatamente sob a batuta do Betinho que a Internet chegou ao Brasil, não que ele a tenha trazido, sozinho, numa mala, mas a instituição que chefiava deu os primeiros passos neste sentido e já em 1992, ou seja, 3 anos antes da web se tornar oficial no pais o instituto chefiado por ele já trazia a Internet, para o evento Eco 92. Sei porque estive lá, participei do processo e foi lá que conheci a Internet.
Em minha memória Henfil nunca morreu, pelo contrário, sempre que preciso de inspiração para poder me expressar com ênfase, com eficiência lembro dele e de seus fantasticos personagens, o Bode Francisco Orellana, a Graúna, o Fradim e o Cumprido e tantos outros personagens que ele criou e que eram a cara do Brasil.
Um gênio, com o qual tive o prazer de compartilhar idéias e momentos, mais do que marcante é um exemplo a ser seguido.

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