terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Meliante perigoso...

Fui criado na fé católica apostólica romana (não necessariamente nesta ordem), fui batizado, crismado e já fiz aquele curso que a gente precisa fazer pra ser padrinho de casamento umas tantas vezes e participei de grupos de jovens.
Mas sou curioso, questionador e em dado momento queria saber o que outras religiões tinham a me oferecer (ou eu a elas) então frequentei outros "sabores" de fé.
Nem sei a qual vertente pertencia aquela igreja que eu gostava de ir, hoje tem lá um prédio no lugar e creio que eu tinha uns 15 anos quando participava. Uma das coisas que eles faziam era visitar os presos e fui diversas vezes a cadeia pública, ali perto, no centro de Ribeirão Preto.
Os presos faziam pedidos e um deles era ter algo para ler, reclamavam que não tinha biblioteca por lá e para mim aquilo doeu mais do que qualquer coisa, afinal eu era rato de biblioteca desde que aprendi a ler e tinha meus contatos na Biblioteca Altino Arantes, bem ali perto, na mesma rua.
Levei o problema a administração da Altino Arantes e na mesma hora sai de lá com uma caixa de livros na cabeça... daquelas caixas grandes, do tamanho de uma caixa de televisão.
Eram livros novos, tive que conter minha vontade de levar alguns para casa, mesmo porque eu tinha liberdade de ir a Biblioteca e pegar mais, sempre que eu quisesse.
Nem passei na igreja, fui direto a cadeia e entreguei a caixa a alguém que disse ser o responsável pelo lugar, informando que os livros eram para montar uma biblioteca na prisão.
Sai de lá feliz da vida, achando que tinha feito minha boa ação daquele dia, os guardas elogiaram a iniciativa e tudo mais, sai com o espirito mais leve, e o corpo também, afinal carreguei a tal caixa pesada na cabeça por uns 10 quarteirões.
Na visita seguinte fui conferir com os presos se tinham gostado do presente e para minha surpresa soube que nenhum livro tinha sido entregue. Questionei sobre isso com os carcereiros e ninguém sabia de nada, ninguém viu a tal caixa... o meu orientador da igreja preferiu não criar polêmica.
Mas sai de lá direto para uma rádio (que também não existe mais, no local tem uma loja das Casas Bahia) e dali a pouco todo mundo que ouvia rádio sabia dos livros sumidos.
Na minha alma ingênua de garoto achei que ia tirar os ratos da toca e na próxima visita tinha certeza que os livros apareceriam e realmente alguns apareceram, nem 10% do que eu tinha levado, mas pelo menos não diziam mais que eu tinha inventado a história e que a tal caixa nunca existiu, pois foi isso que deram a entender os pilantras de uniforme.
Mas olha só... ao me revistar, como sempre faziam, apareeu no "meu bolso" uma serra de aço, destas que usam em arcos de serra. Aquilo nem caberia no meu bolso, mas apareceu num passe de mágica nas mãos de um dos pilantras e minha entrada foi proibida.
Fui devidamente ameaçado de prisão se aparecesse por ali de novo e para meu desespero o pessoal da igreja nada fez, praticamente me deixaram a mercê daqueles pulhas.
Nada fizeram a não ser me aterrorizar um pouco, depois me liberaram, com a recomendação expressa de nunca mais dar as caras por ali, o que realmente fiz.
Também não dei mais as caras na igreja, fiquei decepcionado por duvidarem da minha palavra e não terem me apoiado nesta situação ridícula.
Na biblioteca lamentaram comigo pois só lá eles sabiam da verdade, lá e na rádio, mas infelizmente o mundinho dos canalhas permaneceu intocado.
Nunca mais eu quis entrar numa prisão, passo perto de uma e fico assustado! Não pelas pessoas que estão lá dentro contra sua vontade, pois aprendi desde cedo que nem todos ali são efetivamente "meliantes" como dizem os policiais.
Meu medo é das pessoas que guardam as prisões, sei que nem todos devem ter a alma negra daqueles que roubam livros e acusam injustamente uma criança... ok, um jovem, mas ainda uma pessoa em formação e que não precisava nunca ter passado por aquilo.
Porque lembrei disso?
È que li a pouco no site de uma excecelente revista aqui de Ribeirão Preto a história de um professor que fala da importância dos livros e da leitura, a matéria está aqui.
Sei bem o que a leitura pode fazer de bom por uma pessoa e se gosto de escrever como gosto é porque li e ainda leio muito, espero que tenha feito algo de bom por aqueles sujeitos que roubaram os livros e ainda me acusaram de participar de planos de fuga.
Curiosamente nesta mesma delegacia, nesta mesma cidade e nesta mesma rádio eu teria, um pouco mais a frente uma nova historia de malandragem explicita, mas isso é outro causo.
A delegacia infelizmente ainda está lá, no mesmo lugar, não tem mais prisão interna pois ficou pequena demais para a quantidade de pessoas que gostam de colocar atrás das grades.
È isso que me preocupa na humanidade, as igrejas caem, as rádios caem, mas certas instituições permanecem, mesmo quando sua utilidade deixa de existir.
E ainda por cima nunca mais consegui encontrar uma igreja na qual pudesse depositar minha fé, passei a despreza-las como instituição e só muito recentemente encontrei uma que tem principios que já trazia comigo desde o nascimento.
Não pretendo falar dela aqui, mas aos mais curiosos recomendo um Blog que podemos dizer que é irmão deste, já que o "pai" é o mesmo. Lá eu falo de fé, juntamente com a pessoa que me fez voltar a acreditar na fé novamente. O Blog chama-se Luz no Paraíso.

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